domingo, 10 de julho de 2016

Urina tipo 1

O exame de urina do tipo 1 é utilizado como forma complementar de diagnóstico e fornece informações importantes sobre algumas enfermidades e sobre a condição renal. Como via de excreção, a urina "traduz" o estado fisiológico do organismo, baseando-se nas suas características de quantidade, aspecto físico, presença ou não de elementos anormais e sua composição bioquímica.

Para a obtenção da amostra, preferencialmente no laboratório, deve-se coletar a primeira urina da manhã ou qualquer outra micção com intervalo mínimo de 2 horas sem urinar. Geralmente, a coleta é realizada no coletor universal, podendo variar se o paciente não tiver micção espontânea.

Aspectos físicos da urina

Amostra de urina.

Odor

A urina normal tem um odor característico devido à presença de uréia. Quando o odor é muito forte, deve-se suspeitar de alguma alteração, como uma urina muito concentrada ou uma provável infecção.


Cor

A cor normal da urina varia de claro (diluída) para amarelo escuro (concentrada).

Escala de cores da urina: de límpida à escura.

● Urina vermelha

Se a análise for positiva para sangue, indica que há presença de heme.

- A presença de eritrócitos no sedimento urinário indica hematúria.
- A ausência de eritrócitos no sedimento urinário pode indicar hemoglobinúria, mioglobinúria (rabdomiólise), lise de eritrócitos e urina alcalina (suspeitar se a densidade <1010 e/ou pH>8).

Se a análise for negativa para sangue, pode indicar porfíria ou a ingestão de alimentos que alteram a coloração da urina.


● Outras cores

◦ Laranja - rifampicina, fenazopiridina, caroteno.
◦ Amarela - bilirrubina
◦ Branca - piúria, quilúria, cristais de fosfato.
◦ Verde - azul de metileno, amitriptilina, propofol, aspargos, infecção por Pseudomonas spp.
◦ Preta - ocronose (alcaptonúria), melanoma.


Análise bioquímica (automatizada ou fita reativa)
Presença de sangue

A hematúria microscópica ocorre quando não há alteração visual na urina.
Pigmentos heme podem tornar o resultado positivo na ausência de hematúria.
O ácido ascórbico pode mascarar um resultado positivo de hematúria.


pH

O pH urinário normal varia de 5 a 7.


● pH inferiores a 5
- Dietas ricas em proteína.
- Acidose metabólica.


● pH superiores a 7
- Alcalose metabólica.
- Acidose tubular renal (distal).
- Infecção urinária (formação de amônia por ureases bacterianas).
- Urinas expostas ao ar por muito tempo, devido à perda de gás carbônico para o ambiente.


Densidade

É a análise do "peso" da urina em relação à água destilada pura, cuja densidade é 1000. Quanto mais próximo desse valor (1005, por exemplo), a urina estará mais diluída. Quanto mais distante desse valor (1035, por exemplo), mais concentrada.

- Em um paciente com oligúria, uma densidade >1020 sugere capacidade normal de concentrar a urina e insuficiência pré-renal (diminuição do fluxo sanguíneo renal), enquanto valores aproximados a 1010 sugerem perda da função tubular (necrose tubular aguda/lesão renal aguda).

- Em um paciente com hiponatremia, uma relativa alta densidade (>1010) sugere que o hormônio antidiurético (ADH) está sendo secretado. Já densidades <1010 podem indicar Diabetes insipidus.


Proteínas

As fitas reativas identificam primariamente a albumina. Urinas normais geralmente não possuem proteínas, mas algumas amostras muito concentradas podem indicar traços positivos em indivíduos saudáveis. Quanto o resultado é positivo, indica proteinúria e deve-se realizar a quantificação das proteínas. Os valores podem ser liberados em cruzes ou em números exatos.

● Inferior a 10 mg/dL - ausência de proteínas 
● 10 e 30 mg/dL - traços de proteínas
● 30 mg/dl - 1+
● 40 a 100 mg/dL - 2+
● 150 a 350 mg/dL - 3+
● Superior a 500 mg/dL - 4+


Glicose 

A urina normal não contém glicose, devido à reabsorção da glicose filtrada pelo túbulo proximal.

● Glicosúria com elevada taxa de glicose no sangue pode indicar Diabetes mellitus.

● Glicosúria com glicemia normal - glicosúria renal. 
• Isolada 
• Associada a outras disfunções tubulares proximais (fosfatúria, aminoacidúria, bicarbonatúria, síndrome de Fanconi). Deve-se excluir o mieloma múltiplo.


Cetona

Normalmente, não há corpos cetônicos na urina.

◦ Cetonúria sem cetoacidose - jejum, dieta com poucos carboidratos, ingestão de álcool.◦ Cetonúria com cetoacidose - cetoacidose diabética ou alcoólica. Em alguns pacientes com cetoacidose, a fita pode ser negativa devido à redução de acetoacetato a ß-hidroxibutirato.


Bilirrubina

Normalmente, não há bilirrubina na urina. Se estiver presente, pode sugerir doença hepatobiliar (falha na conjugação e/ou excreção de bilirrubina no intestino) ou hemólise (aumento da produção de bilirrubina do heme).


Urobilinogênio 

A bilirrubina é excretada da bile para o intestino, onde é metabolizado por micro-organismos em urobilinogênio. O urobilinogênio então é absorvido e parcialmente excretado na urina. Na presença da doença hepática, quantidades de urobilinogênio podem acumular no plasma e aparecerem na urina. A presença de bilirrubina sem urobilinogênio na urina sugere obstrução biliar.


Esterase leucocitária

É uma enzima proveniente de células brancas do sangue (leucócitos) e indica piúria com infecção do trato urinário (ITU) ou leucocitúria estéril.


Nitrito

As enterobactérias convertem nitrato urinário em nitrito, portanto um teste positivo sugere ITU. Porém, como nem todos os micro-organismos produzem nitrito, as ITU podem estar presentes com um resultado de nitrito negativo.


Análise microscópica


Eritrócitos

Sugere hematúria quando os valores são superiores a 5 eritrócitos por campo ou 10.000 células/mL.

Imagem: Manual of Nephrology.


Leucócitos

Sugere infecção ou piúria estéril. Na piúria estéril, deve-se excluir a nefrite intersticial. Outras causas incluem infecções não bacterianas, prostatite, nefrolitíase e glomerulonefrite. A eosinofilúria sugere nefrite intersticial.

Imagem: Studyblue.

Células epiteliais escamosas

A presença dessas células representa uma possível contaminação da amostra.

Imagem: University of Georgia Athens.

Bactérias
Indica uma possível infecção.

Imagem: Cornell University.

Leveduras

Podem indicar infecção ou contaminação. A presença de pseudomicélios sugere infecção. Os fatores de risco incluem cateteres, uso recente de antibióticos, imunossupressão e diabetes.

Imagem: University of Delaware.


Cristais

Os produtos residuais dissolvidos na urina podem se solidificar quando a concentração dessas substâncias aumenta ou quando o nível de pH é crescente em ácido ou base. Conhecidos como cristais, esses solutos são considerados normais na urina. Cristais na urina que não são de solutos habituais são considerados como cristais anormais e indicam alterações no processo metabólico. 

● Oxalato de cálcio: podem ser visualizados na urina normal, mas em grandes quantidades podem indicar pedras nos rins.

Imagem: Flickriver.

● Fosfato de cálcio: amorfo, forma-se em urinas alcalinas. Em grandes quantidades sugerem pedras no rins.

Imagem: Enjoypath.
● Ácido úrico: pleomórfico, forma-se em urinas ácidas. De coloração amarelo acastanhada, pode indicar pedras nos rins ou nefropatia quando em grandes quantidades.

Imagem: University of Nebraska Medical Center.

● Cistina: indica cistinúria.

Imagem: Bodieswelive.
● Fosfato de magnésio e amônio: indica a presença de cálculos renais.

Imagem: Kay Phillips.


Cilindros urinários


A formação dos cilindros ocorre no túbulo contorcido distal e no ducto coletor do rim, e requer a interação do pH, concentração, proteínas e outros elementos urinários.

● Cilindros hialinos são compostos principalmente por uma mucoproteína secretada pelas células do túbulo. Eles são formados em urinas concentradas e podem ser vistos em pequenas quantidades nos pacientes saudáveis. Grandes quantidades sugerem baixo fluxo urinário (estado pré-renal ou pós-renal). 

● Cilindros leucocitários indicam pielonefrite aguda ou inflamação nos rins (normalmente túbulo-intersticial).

● Cilindros granulares são inespecíficos, mas indicam doença renal. A lesão renal aguda (necrose tubular aguda) é caracterizada por cilindros granulares pigmentados.

● Cilindros de células epiteliais são vistos na doença renal aguda e crônica.

● Cilindros céreos são vistos na doença renal crônica.

● Cilindros de gordura podem ser visto na síndrome nefrótica. Sob luz polarizada, têm forma característica das "cruzes de Malta".

Cilindros urinários: A - Hialino; B - Hialino com gordura; C - Hialino/Granular; D - Celular; E - Celular/Granular; F - Granular; G - Celular fino; H - Celular/Céreo; I - Céreo (Imagem: meddic.jp).

Fonte: Hypertension, Dialysis and Clinical Nephrology (American Society of
Nephrology - ASN).

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